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Desafio de Viagem #7 de 10

2016, Avenida dos Glaciares, Ushuaia, Patagônia.


Vamos pensar na vida por um momento. A vida, que eu digo, que significa o mesmo que destino, Deus, universo... (vai depender da sua perspectiva religiosa e/ou filosófica).


O que é a vida, afinal? O que ela faz? O que ela nos permite?

Por mais que seja uma concepção abstrata, às vezes gostamos de dar forma a ela, se tornando quase uma entidade que pode "ser dura", pode "nos dar limões", pode "andar" ou "seguir"...


É engraçado como a gente gosta de terceirizar tudo, né? Nossos problemas, vontades e conquistas... será que por trás de tudo que acontece não está... você?

Eu?

Todos nós?


É a vida que segue ou a gente que segue com a vida?


E o que todo esse papo-cabeça existencial tem a ver com uma foto de uma geleira?


Bora lá vincular:


Em 2016, eu e minha agente de viagens / escritora / poliglota / multitarefa / mãe nas horas vagas fizemos um cruzeiro para a Patagônia, que saía do Rio de Janeiro e rodava a parte inferior da América do Sul até chegar em Santiago, no Chile.


Lá no extremo sul do trajeto, por volta do Cabo Horn, um dos mares mais perigosos do planeta, várias paradas programadas foram sendo canceladas devido às más condições do tempo.

Devo registrar aqui a minha terrível frustração de não ter visitado um dos pontos mais esperados de toda a viagem: a Ilha Magdalena, no Estreito de Magalhães, uma colônia onde normalmente residem mais de 150.000 pinguins.


Em Punta Arenas (Chile), conseguimos descer do navio e fazer uma rápida visita, voltando antes da hora do almoço; já de volta, descobrimos que quem tinha ficado um pouco mais não pôde voltar pro navio de imediato pois rajadas de vento terríveis deixaram o mar inavegável. Centenas de pessoas tiveram que passar o resto do dia "acampando" no porto da cidade até que, já em alta madrugada, as coisas se acalmaram e todos puderam voltar com segurança.


Frustração era um sentimento recorrente na embarcação depois de tanta tensão e oportunidades perdidas sem que ninguém pudesse fazer nada a respeito. Afinal, o ser humano pode pagar de conquistador e espécie dominante o quanto quiser, mas, no final das contas, estamos sempre à mercê de uma força maior, também conhecida por natureza.


Mas, calma, que isso não é um texto sobre frustração.

É um texto sobre as vicissitudes da vida.


Em meio ao clima desanimado dos viajantes, eis que surge a voz do comandante, num alto-falante, trazendo o mais inesperado dos avisos: para compensar as paradas canceladas, iríamos mudar um pouco o trajeto e passar o dia atravessando a Avenida dos Glaciares.


Em pouco tempo, todos correram pras áreas externas, mesmo com um frio de gelar os ossos, para se deparar com uma visão embasbacante: estávamos em uma enorme extensão de água que era rodeada, nos dois lados, por montanhas de gelo gigantescas. Geleiras milenares, magníficas, selvagens, completamente intocadas por mãos humanas. Em alguns pontos, o gelo tornava-se ciano, místico, quase lendário.

Em um momento que nunca vou esquecer, houve um "pequeno" desmoronamento e uma avalanche de gelo alcançou o mar, fazendo um estrondo ensurdecedor e impactando a todos que tiveram a sorte de estar ali para assistir àquele acontecimento único.


Eu, pessoalmente, gosto de pensar que a vida devolve exatamente tudo que a gente manda pra ela, energeticamente falando.

Mas nunca de maneira clara, nem preto no branco, nem de imediato. Ela gosta de de nos pregar peças, de arrancar nosso tapete quando menos esperamos, de nos surpreender, de nos presentear...


No final das contas, não pude ver pinguins, enfrentei alguns perrengues, deixei de conhecer (ou pelo menos, atrasei a visita de) alguns lugares incríveis... mas acabei tendo, no lugar disso, um dos dias mais memoráveis da minha vida. Tive a oportunidade de contemplar um verdadeiro milagre da natureza, que talvez não pudesse testemunhar em circunstâncias normais.


Uma bela de uma limonada, se você quer saber.

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